Assistindo uma conferência do Dr. James Pivarnik da Universidade Estadual de Michigan - EUA, percebi a necessidade de mais estudos sobre o tema “exercícios físicos e gestação”, muitas respostas nem mesmo o maior estudioso da área pode nos dar. Existe uma lacuna na ciência no que diz respeito à atividade física para gestantes. Temos poucos estudos que avaliam a musculação e não existem estudos sobre o pilates e a yoga. O que mais encontramos são pesquisas que utilizam caminhada e atividades aeróbicas de baixa intensidade. Portanto, temos pouquíssimas informações sobre os efeitos de diferentes modalidades de exercícios na mulher gestante.
Mas o que está definitivamente comprovado é que ficar parada nesta fase pode ser sim um grande problema! Estudos recentes demonstram que a falta de atividade física na gestação pode causar perda de massa muscular e de condicionamento cardiovascular, ganho excessivo de peso, maior risco de desenvolver diabetes e hipertensão gestacional, problemas circulatórios, alta incidência de dores lombares e dispnéia (falta de ar ou fôlego curto), além de piores ajustes psicológicos às mudanças físicas provocadas pela gravidez. Atualmente o foco dos estudos não são mais os efeitos adversos da prática de exercícios durante a gravidez , o meio científico se preocupa com as consequências do sedentarismo nesta fase.
Hoje é consenso, a gestante deve se manter ativa, mas a dúvida é: qual modalidade praticar? Não podemos garantir que a hidroginástica seja a melhor atividade neste período, nem mesmo o pilates ou a yoga. Então, porque essas atividades estão entre as mais prescritas? Por que os profissionais da saúde desencorajam gestantes previamente ativas a continuar o seu programa de treinamento na musculação ou ergometria?
Penso que esses profissionais devem supor que a yoga, o pilates e a hidroginástica são atividades mais leves e por precaução as indicam. Mas na verdade, não há evidências que comprovem que elas seriam mais benéficas. Acredito que a prescrição de exercícios é individual, e para cada gestante existe uma modalidade ideal. Não há como generalizar.
É claro que existem atividades contraindicadas neste período e que antes de iniciar um programa de exercícios é necessário a liberação médica. Existem contraindicações relativas e absolutas para a prática de atividades físicas durante a gestação, as quais devem ser avaliadas pelo ginecologista. No caso de gravidez sem complicações, a musculação e a ergometria (bicicleta estacionária, esteira, “transport” e step) se enquadram como boas opções de prática neste período. As atividades são realizadas em ambiente controlado (sem risco de quedas ou choques) e os exercícios podem ser adaptados de forma a evitar grande impacto articular, sendo também possível controlar de maneira precisa a intensidade do treinamento. Além disso, existe a possibilidade de se buscar posturas e ângulos de movimentos adequados e confortáveis, evitando posições contraindicadas como a supina (deitada de costas).
“E na musculação, quais são os exercícios mais indicados para a gestante?” é uma pergunta recorrente realizada por profissionais da área da atividade física em simpósios e cursos.
Como ainda não existem estudos conclusivos com diferentes exercícios e modelos de treinamento, o que nos resta é usar o bom senso, procurando sempre exercícios que não promovam desconforto para a gestante, risco de queda ou trauma.
Deve-se evitar nesta fase grandes aumentos de carga e a manobra de Valsalva (expiração forçada com a glote fechada). Exercícios abdominais são contraindicados somente nos casos de diastase (separação do músculo reto abdominal).
É importante também escolher ambientes adequados para o treinamento, evitando locais quentes e/ou abafados e orientar com cuidado a hidratação durante o exercício, pois a gestante é mais suscetível a hipertermia.
Temos que ter em mente também que este não é o período ideal para se buscar atingir a máxima performance esportiva, com objetivos competitivos. No caso de gravidez sem complicações, recomenda-se praticar atividades aeróbicas e de força muscular com intensidade leve a moderada.
A gestação não deve significar um período de confinamento, como se acreditava no início do século 20. O atual slogan do meio científico sobre o tema poderia ser: “Gestante: não dê uma pausa no seu modo de vida ativo!”